Com o desenrolar do ano de 1910 os escândalos em que a Monarquia se vai atolando sucedem-se a um ritmo vertiginoso. A 22 de Abril, Afonso Costa intervém no Parlamento a propósito do monopólio do açúcar na Madeira e, após vários dias de boatos, a 1 de Maio, é anunciada a falência do Crédito Predial Português, cujo director, José Luciano de Castro, é o chefe do Partido Progressista. Em resultado deste enorme escândalo, José Luciano de Castro demite-se do Crédito Predial e Veiga Beirão acompanha o seu líder de partido demitindo-se de chefe do Governo, embora se mantenha em funções até final do mês de Maio.
Após um mês de hesitação, em princípio de Julho de 1910, toma posse um novo ministério chefiado por António Teixeira de Sousa, chefe do Partido Regenerador desde a demissão de Júlio de Vilhena e líder da “ala esquerda” desta formação política. É este Governo que promove as eleições de 28 de Agosto de 1910, mantendo-se em funções até à revolução de 5 de Outubro de 1910.
No distrito de Beja, nestas últimas eleições para o Parlamento Monárquico, apresentam-se três listas: A lista do Partido Nacionalista, organização política ligada à Igreja e aos Jesuítas, com um só candidato, Domingos Pulido Garcia; A lista monárquica, resultante da coligação entre regeneradores e progressistas, constituída por João de Sousa Tavares, Joaquim António de Santana, Augusto C. Clara da Rica, Libânio Fialho Gomes e Francisco Lacerda Ravasco; A lista republicana, cujos candidatos são António Aresta Branco, António Benevenuto Ladislau Piçarra, Ernesto Campos de Carvalho, Francisco Manuel Pereira Coelho e Manuel de Brito Camacho.
Apesar da vitória dos monárquicos, Manuel de Brito Camacho é reeleito deputado e os resultados eleitorais mostram-nos um Baixo Alentejo onde o Partido Republicano tem uma influência significativa, ganhando em cinco concelhos: Beja, Cuba, Aljustrel, Castro Verde e Odemira. Os votos, expressos sob a forma de lista aberta, mostram ainda um distrito com duas faces. Uma republicana, constituída por 11 concelhos (Beja, Ferreira do Alentejo, Cuba, Alvito, Aljustrel, Vidigueira, Castro Verde, Ourique, Odemira, Almodôvar e Mértola) onde, no conjunto, o Partido Republicano obtém mais 95 votos que os candidatos monárquicos e uma outra integrando os concelhos da margem esquerda do Guadiana (Moura, Serpa e Barrancos), território onde progressistas e regeneradores conseguem 2.480 listas entradas nas urnas contra apenas 235 dos republicanos.
No concelho de Beja, onde para além da cidade existem também assembleias de voto em meios rurais, verifica-se que os republicanos perdem no campo, caso por exemplo de Baleizão, mas ganham na cidade o que mostra que a base eleitoral republicana se encontra nos funcionários públicos, nos comerciantes, nas profissões liberais, nos polícias e nas patentes baixas e intermédias do exército.
É ainda digno de registo o facto de num distrito com 192.499 habitantes (censos de 1911) só terem votado 10.323 eleitores. Aqui o problema não é a abstenção, mas sim os entraves colocados pela lei às inscrições nos cadernos eleitorais.
