OS TOUROS QUE HABITAM AS CIDADES DE BEJA
De memórias & mitos se poderá escrever uma história do touro na cidade e território de Beja. Às matérias arqueológicas que foram à terra resgatadas associa-se a narrativa lendária que conta como a cidade terá sido fundada após o sacrifício de um touro envenenado, oferecido a uma serpente que sobressaltava os habitantes da planície. Se esta história é a luz de que nos chega de outros tempos não ousamos afirmar, mas do tempo longínquo conseguimos alcançar artefactos que oferecem alguma claridade. Demonstram, inequivocamente, que o touro ocupou sempre uma posição destacada ao longo dos vários tempos da cidade de Beja. André de Resende na sua obra As Antiguidades da Lusitânia, escrita no século XVI, reportava a existência de dez cabeças de touro sobreviventes do período romano, atestando a ubiquidade desta representação no espaço urbano de Pax Julia. Desintegrou-se o império, mas o vínculo deste espaço com o touro persistiu. Séculos depois, na Alta Idade Média o touro é insígnia da cidade, representado no seu brasão que, até aos dias de hoje, permanece inalterado.
Recuando um pouco mais no tempo, para lá de dois mil e quinhentos anos, descobertas recentes numa zona a Oeste de Beja revelaram que a ligação do território à figura taurina poderá ser mais antiga. O Touro votivo de Cinco Reis, na sua pose majestática, porventura divina, vem unir-se a outros cúmplices da segunda metade do primeiro milénio a.C. e de época romana, que denunciam o touro como figura totémica. Já em época contemporânea, Isaclino Palma dá vida à lenda fundacional de Beja com uma peça escultória. Todavia, é verdadeiramente com a chegada de Jorge Vieira a Beja que se dá o sopro, o bafo taurino, prolongando a vida desta história extraordinária. Neste núcleo convidamo-lo a percorrê-la como se um labirinto fosse, onde a cada cotovelo percorrido encontrará um fragmento do longo tempo da cidade e do touro que nunca a abandonou.
Touros na atual Cidade de Beja – uma sugestão de percurso
A relação do touro com Beja não subsiste apenas por via dos arquivos históricos e arqueológicos. A obra de Jorge Vieira preserva-o num outro registo, em linguagem própria, mas a iconografia taurina bejense respira ainda em recantos secretos, e em outros mais expostos, do emaranhado urbano. Num trecho da muralha do Parque Vista Alegre é possível observar uma cabeça de touro de época romana, não dissemelhante da que se expõe nesta exposição. Um outro tauromorfo romano é ostentado na torre do relógio da Igreja de Santa Maria encontrando afinidades com a cabeça de touro de dimensões mais modestas do Museu Rainha Dona Leonor. Um olhar atento do passeante pela Praça da Repúblico permitirá notar a representação do touro como brasão municipal nos cadeeiros que iluminam este centro da cidade. O edifício das Finanças ostenta também antigo brasão, tal como os Passos do Concelho no edifício da Câmara Municipal. Entre estes outros lugares oferecem ainda eco desta relação umbilical com este animal. Consulte o mapa que aqui partilhamos e aventure-se num passeio pela cidade à procura das mui antigas cabeças de touro que habitam ainda a cidade de Beja.
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Com a ajuda deste mapa pode partir à descoberta da iconografia do Touro em Beja